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Amazonas tem baixa procura por vacina contra o vírus HPV
Última atualização: 28 de Abril de 2015 - 15:31

Manaus - Apenas 29,2% das meninas entre 9 e 11 anos receberam a vacina contra o papilomavírus humano (HPV), no Amazonas, segundo a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS). A meta do Estado é vacinar 121.199 garotas, mas entre março de 2014 e março de 2015, somente 35.502 foram imunizadas.

Por determinação do Ministério da Saúde (MS),  todas as meninas entre 9 e 11 anos devem ser vacinas contra  o HPV, além de mulheres da população indígena e soropositivas. “A  vacinação é permanente, não é apenas um período de campanha. Em todo Brasil, estamos enfrentando a baixa adesão da população”, explicou o presidente da FVS, Bernardino Albuquerque.

A vacinação contra o HPV é gratuita, dividida em três doses, e está disponível em todas as  Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da capital. Para Bernardino,  a baixa cobertura da faixa etária determinada é preocupante porque estudos do MS mostram que a vacina tem maior eficácia se for administrada em adolescentes que ainda não foram expostas ao vírus, pois, nessa idade, há maior produção de anticorpos contra o HPV, que estão incluídos na vacina.

O HPV  infecta a pele e mucosas da mulher, levando ao  câncer do colo de útero em 70% dos casos. O  vírus é altamente contagioso, e contamina em  uma única exposição. A transmissão acontece por contato direto com a pele ou mucosa infectada. “Essa doença compromete totalmente a fertilidade da mulher, e  pode matar”, alerta.

O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que, até o fim do ano, o Amazonas deve registrar 630 novos casos de câncer de colo de útero. Este é o tipo tumor que mais mata mulheres no Estado.   Junto com o câncer de mama, o câncer no colo do útero  tirou 115.781 anos potenciais de vida  de 4.535 mulheres no Amazonas, entre 1979 e 2013, conforme dados do Atlas Online de Mortalidade do Inca.

Preconceito

A enfermeira Luiza Pontes, 40,  afirma que sua filha de 10 anos sofreu preconceito em um colégio particular da zona centro-sul ao contar que foi vacinada contra o HPV. Revoltada, a  mãe procurou a coordenação da instituição, e está tentando mobilizar outras famílias para disseminar informações via internet. “Acho um absurdo  não vacinar a filha por ser tratar de uma doença sexualmente transmissível. Não é um incentivo ao sexo precoce, é uma questão puramente de saúde”.

Manaus conseguiu imunizar 100% das meninas de 11 anos de idade, mas no grupo de 12 a 14 anos, a meta estipulada pelo MS, de 75% das meninas  imunizadas dentro da faixa etária de 11 a 13 anos de idade, não foi alcançada.

Adesão à campanha vem caindo no AM

A adesão à vacinação contra o HPV vem caindo ao longo do tempo. Ao todo, as meninas devem tomar três doses para ter a proteção garantida - e o número de garotas que recebe a vacina costuma diminuir ao longo das doses. De acordo com os especialistas, os baixos números podem ser explicados por um conjunto de fatores, que inclui a falta de preparação dos profissionais de saúde e das escolas que participam da campanha, a insuficiência de informação adequada sobre a eficácia e segurança da vacina para os pais e adolescentes e a associação do HPV ao início da vida sexual.

Outra causa que contribuiu para a visão negativa da vacina foram os efeitos adversos sofridos por 11 meninas que receberam a segunda dose da vacina, no ano passado, em Bertioga (SP).

Para Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, implementar campanhas de saúde cujo público-alvo é formado por pré-adolescentes e adolescentes exige cuidados e estratégias específicas. Em primeiro lugar, os profissionais de saúde - médicos, enfermeiros e funcionários em geral - precisam estar bem informados e preparados para interagir com as adolescentes e seus pais.

Os pais também têm papel fundamental neste processo, pois são eles que permitirão que as filhas tomem a vacina. Para eles, mais importante que a eficácia e finalidade da vacina, é a certeza de que as doses não causarão nenhum dano à saúde das garotas.

Desse modo, é importante que os profissionais de saúde estejam aptos a explicar a esses adultos, em linguagem adequada, como a vacina funciona, quais são seus benefícios e quão segura é a imunização, assim como os possíveis sintomas adversos e suas causas. Os especialistas dizem que a parceria com as escolas ainda é a melhor estratégia de vacinação de adolescentes, pois a vacina vai até elas.