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Doenças cardíacas matam mais que trânsito, violência e câncer no Amazonas
Última atualização: 25 de Janeiro de 2016 - 13:30

Manaus - O infarto e outras doenças cardiovasculares são as que mais matam no Amazonas. Em cinco anos, foram 13.743  casos, em média sete mortes por dia. As doenças do sistema circulatório que, segundo os médicos, podem ser facilmente evitadas, mataram mais do que o trânsito, a violência e o câncer. Os dados são da base de 2011 e 2015 do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (MS).

 

De acordo com o MS, 18 doenças foram responsáveis pela morte de quase 80 mil pessoas no Amazonas, nos últimos cinco anos. Seguido das doenças do sistema circulatório, as mortes por causas externas, como violência e o trânsito, ocupam o segundo lugar no ranking, fazendo 13.143 vítimas fatais, entre 2011 e 2015. Somente no ano passado foram 2.535 mortes. Já o câncer matou pessoas 11.687  no período, destas 2.340 em 2015.

Na avaliação do cardiologista Anderson Rodrigues,  as 13.743 mortes por doenças cardiovasculares poderiam ser facilmente evitadas por estarem relacionadas a má alimentação, tabagismo e sedentarismo. Segundo ele, o paciente que não possui esses maus hábitos tem boas chances de não contrair doenças crônicas do coração, doenças hipertensivas, enfermidades isquêmicas do coração, doenças cardíacas pulmonar e da circulação pulmonar, entre outras formas de enfermidade do coração.

“As doenças geralmente são evitáveis. Todo mundo sabe o que fazer, não precisa ser da área da saúde, até o Google sabe quais são os itens que a gente tem que cuidar, todavia prevalece a negligência. Acontece que as pessoas só cuidam quando os sinais aparecem, enquanto isso continuam tendo maus hábitos alimentares, fumando e sedentários”, disse.

Outras condições aumentam o risco deste tipo de doença, segundo o médico. A obesidade contribui para as diabetes e adiciona, ainda, mais as chances de ter doenças ligadas à hipertensão, como o AVC (Acidente Vascular Cerebral) e o infarto agudo do miocárdio.

“Hoje a obesidade é uma epidemia mundial e o Amazonas não foge a regra. Ao ingerir mais carboidratos, você aumenta principalmente a obesidade abdominal, ou seja, quanto maior a barriga mais chances de ter problemas cardíacos”, disse o médico.

As crianças também não estão livres da doença e a obesidade, segundo Rodrigues, é um fator de risco importante para a idade. Para o cardiologista, a mudança de hábitos entre as crianças, tanto alimentares como de exercícios físicos, contribuem para o crescimento de um adulto hipertenso.

“A criança que não faz atividade física, que conhece como brincadeira o vídeo game e como diversão a televisão, se torna uma criança sedentária. E essa criança obesa será, no futuro, o adulto com pressão alta”, afirmou.

Pessoas que possuem histórico cardíaco na família devem ter cuidado redobrado, conforme o cardiologista. As chances para quem tem pai, mãe e irmãos com doenças do sistema circulatório crescem até duas vezes e meia. Os filhos de pessoas com doenças cardiovasculares tem uma maior propensão para desenvolverem doenças desse grupo. Pessoas de pele negra são mais propensos a hipertensão arterial e neles ela costuma ter um curso mais severo.

Outro fator de risco é a idade. Segundo o médico, a maioria das pessoas acometidas de doenças cardiovasculares está acima dos 65 anos. Os homens, por fatores genéticos, apresentam maiores chances de ter um ataque cardíaco, segundo o cardiologista.

“O cigarro é a mudança mais importante para o paciente. Se eu paro de fumar, se eu modifico esse hábito, minhas chances de ter uma vida sem doenças cardíacas são outras”, afirmou o cardiologista.

Segundo o médico, cerca de 45% das mortes por infarto, 25% das mortes ocasionadas  derrame e 90% dos casos de câncer do pulmão ocorreram com fumantes.

 

Sequelas

Depois de ter um AVC, o paciente pode ficar com várias sequelas, ligeiras ou graves, como ter dificuldade em andar tendo de usar cadeira de rodas ou ter dificuldade em falar que, segundo o médico, podem ser consequências temporárias ou permanecer para toda a vida.

“Se eu tive um derrame e estou em recuperação, tenho mais chances de sofrer quedas porque a atividade motora está comprometida. O paciente pode ter, ainda, lesões de úlcera de pressão nas costas ou calcanhar por decorrência de ficar muito tempo deitado, fora as sequelas do derrame”, explicou o médico.

Cardíacos que já apresentaram um infarto do miocárdio, segundo o médico, têm risco bastante aumentado de um novo infarto. Por isso, o cuidado com a saúde deve ser “rigoroso”, de acordo com ele, para alcançar o objetivo de reduzir esse risco.

‘Deus me fez nascer de novo’, diz vítima de infarto

Quem viu a morte de perto, como a aposentada Eliana Leite, 62, sabe a importância de mudar o cotidiano. Segundo a cardíaca, após um infarto agudo no miocárdio a necessidade de uma mudança drástica nos hábitos alimentares, a fez deixar o sedentarismo de lado e passou a gostar de se exercitar.

Em dezembro de 2014, próximo ao Natal, a aposentada conta que sentiu uma dor forte no peito, como uma queimação e acordou sem saber o que havia acontecido, com os familiares em volta. Depois de passar por uma cirurgia, o cardiologista fez sérias recomendações à aposentada sobre a sua alimentação, segundo ela, na época do infarto, estava 44 quilos acima do pessoa ideal.

“Foi uma sensação horrível. Quando voltei da cirurgia que, graças a Deus, não teve nenhuma complicação e vi meus filhos, minha irmã com aquela cara de nervosismo, sabe? Pensei depois o quanto eu queria ver minha neta se formando na faculdade e isso foi o suficiente pra mim, Deus me fez nascer de novo”, disse.

Atualmente, a aposentada participa de todas as corridas de rua, faz hidroginástica e ainda pratica pilates, além da alimentação que, segundo ela, não conta mais com tantas frituras como antes. “Parei de fumar aos 40 anos, nunca pensei, naquela época então que a gente não tinha tanta informação, que estava me fazendo um mal tão grande”, disse.

Acamado há cinco anos, o pai do comerciante Altair Miranda Filho, 44, passou por dois episódios de derrame e um infarto. Segundo ele, o pai de 73 anos não consegue realizar nenhuma tarefa sozinho, precisa de ajuda diariamente, 24 horas por dia.

“Meu pai sempre foi uma pessoa muito ativa, íamos no Careiro comprar peixe muito cedo todo o domingo. É muito triste ver uma pessoa que foi o chefe de uma casa, sem conseguir ir ao banheiro sozinho por causa de uma doença”, disse.

Conforme Altair, por causa das sequelas deixadas, o pai não consegue andar e a fala ficou muito prejudicada. De acordo com ele, as funções renais também ficaram comprometidas.

“Ele nunca teve uma vida saudável, isso é verdade. E agora que sei que eu também posso ter problemas cardíacos vou me cuidar, pra mim essa é a pior doença que o ser humano pode ter”, disse.

Segundo o cardiologista Anderson Rodrigues, estudos médicos comprovam que a mudanças de hábitos em alguns pacientes faz com que não haja a necessidade da administração do medicamento.

“Só a mudança do estilo de vida, reduz o risco de doenças cardiovasculares, até melhor que alguns tratamentos em alguns casos”, afirmou.

Segundo o médico, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez a projeção  de que, entre os anos 2000 e 2040  o Brasil passe a ser o país com maior número de morte por doenças cardíacas, a organização prevê um aumento de 250% no número de mortes cardiovasculares em todo o País.

Embora seja a causa de morte que mais mata no Amazonas e em todo o país, segundo dados do Ministério da Saúde (MS), o cardiologista afirma que são raras as consultas preventivas. “ Uma minoria procura fazer exames que podem indicar previamente a possibilidade da doença e isso é muito grave”, alertou.

Dezoito doenças que mais mataram em 5 anos

O ranking das principais causas de morte no Amazonas, segundo os dados do Ministério da Saúde (MS), é composto por 18 causas macro. A primeira são as doenças do sistema circulatório, seguido de mortes por causas externas, incluindo violência e acidentes de trânsito e as neoplasias, conhecidas popularmente como câncer.

De acordo com o relatório, realizado com dados dos anos de 2011 a 2015, as doenças com causas mal definidas, que não tiveram diagnóstico final nem mesmo com exames laboratoriais, registraram a morte de 9.224 pessoas nos últimos cinco anos.

Segundo dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus), no mesmo período, 7.061 crianças não alcançaram os primeiros sete dias de vida, ocupando o 5º lugar na lista. Conforme descrição do MS, a categoria registrou somente no ano passado, 1.373 vítimas fatais infantis. A categoria abrange complicações no parto envolvendo a placenta, o cordão umbilical, infecções, traumatismos no parto, asfixia ao nascer, entre outros problemas.

Em seguida as doenças do aparelho respiratório tiraram a vida de 6.379 pessoas nos últimos cinco anos. Já as doenças endócrinas nutricionais e metabólicas, como o diabetes e o hipotireoidismo, em 6º lugar, levaram à morte de 6.379.

As doenças infecciosas como o caso das complicações por HIV, a sífilis e hepatite, e as doenças causadas por parasitas, entre elas a leishmaniose, a dengue e a malária ocuparam o 7º lugar e tiraram a vida de 4.520 pessoas no Amazonas.

As doenças do aparelho digestivo (3.110) e enfermidades ocorridas por falhas no DNA, como a síndrome de down (1.777) completam as dez principais causas de morte registradas no Estado.