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Oropouche e Mayaro: Febres ocultas que representam riscos no interior do Amazonas
Última atualização: 26 de Janeiro de 2016 - 15:59

Um novo estudo, realizado dessa vez em cidades do interior como Manacapuru, Itacoatiara e Tefé, deve revelar qual o cenário e o impacto das febres Oropouche e Mayaro, transmitidas por insetos que circulam na Amazônia, cujos sintomas são parecidos com os da dengue, febre Chikungunya e Zika vírus. Quase 300 amostras estão sendo analisadas e os resultados devem sair em um ou dois meses, no máximo.

A informação é do vice-diretor de Pesquisas do Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), Felipe Naveca. Conforme ele, um estudo realizado em conjunto com a Fundação de Medicina Tropical (FMT) mostrou que entre os anos de 2007-2009, quando ainda não se tinha registro da febre Chikungunya e Zika no País, pelo menos 50% dos casos suspeitos de dengue em Manaus não foram confirmados em laboratório.

Os resultados deram negativo para dengue e também para a malária, trazendo à tona outros tipos de vírus, como as febres Oropouche e Mayaro, cujos vetores são os mosquitos das espécies culicoides paraenses (meruim) e Haemagogus janthinomys, respectivamente. “Agora nós estamos expandindo o estudo para o interior para saber qual o impacto disso. Também não descartamos a possibilidade de encontrar novos vírus”, revelou.

Naveca conta que os sintomas dessas doenças são semelhantes. Assim como a dengue e Zika vírus, a Oropouche e a Mayaro apresentam febre, calafrios, manchas e dores musculares, nas articulações e de cabeça, o que acaba contribuindo para que os doentes sejam diagnosticados erroneamente. “Só baseado nos sintomas não dá para ter certeza absoluta. O diagnóstico preciso é feito por meio de exames laboratoriais”, ressalta.

No entanto, ele afirma que o tratamento para ambos é o mesmo, tendo em vista que, como não há drogas específicas, os médicos tratam os sintomas. O importante é procurar uma unidade de saúde o mais rápido possível. “O ideal é até cinco dias quando dá para ter certeza do que está causando a doença. Depois disso, existe um teste para detectar dengue e Chikungunya, mas para Zika ainda não tem. Para Oropouche e a Mayaro os testes estão em fase experimentais”, salienta.

 

Sintomas confusos

O vice-diretor de Pesquisas do ILMD/Fiocruz Amazônia, Felipe Naveca admite que os sintomas das febres Oropouche e a Mayaro podem confundir e, com isso, influenciar no aumento de casos suspeitos de dengue e Zika vírus. Conforme ele, essa hipótese não pode ser descartada, mas por enquanto, o instituto está priorizando os testes para o Zika.

Naveca destaca que todas essas doenças são difíceis de ser acompanhadas porque não há muito conhecimento sobre esses vírus. Também não há pesquisas sobre eles, ou seja, há pouca informação sobre Zika vírus, Oropouche e Mayaro. Outra questão é o fato de que nem todo mundo que é infectado apresenta os sintomas.

 

Febre amarela é  a mais perigosa

O vice-diretor de Pesquisas do ILMD/Fiocruz Amazônia, Felipe Naveca, enfatiza que é importante fazer um alerta em relação à febre amarela para que as pessoas que ainda não tomaram a vacina, que tome imediatamente.

Ele destaca que o Brasil não tinha registro dessa doença desde a década de 1970, mas apareceu um caso suspeito no Rio Grande do Norte. Dois institutos de referência já confirmaram, mas o caso continua sob investigação.

Naveca evidencia que, de todas as doenças citadas, a febre amarela é a mais perigosa. De acordo com ele, até 50% dos casos pode levar à morte. “Pode chegar a 50% os casos de mortes relacionados a febre amarela. Os sintomas dessa doença oscilam, começa com febre, mas só que evolui rapidamente e a pessoa fica amarela e com os olhos amarelados também. Ela ataca o fígado de maneira grave”, observa.

Ele destaca que há anos o País não registra casos de febre amarela porque existe uma vacina que, por sinal, é muito eficaz. Basta tomar uma vez para ficar protegido. “Antes tinha que renovar a cada dez anos, mas os últimos estudos mostram que uma vez que tomou a vacina a proteção fica para vida inteira. Agora tem alguns grupos que não podem ser vacinados, como idosos, pessoas com Aids, quem tem alergia a ovos, entre outros”, enfatizou Naveca.

A indicação do vice-diretor de Pesquisas do ILMD/Fiocruz Amazônia de tomar a vacina contra a febre amarela é principalmente para as pessoas que moram em áreas endêmicas.

Felipe Naveca reforça que a febre amarela pode ser transmitida tanto na área rural quanto urbana.  “Tem dois mosquitos vetor da febre amarela na área urbana, é o Aedes aegypti, na rural é o Haemagogus. Não temos problema da doença, mas como tem um caso suspeito é melhor tomar prevenção”, conclui.

 

SAIBA MAIS

Guillain-Barré: Sobre a associação do Zika vírus com a síndrome de Guillain-Barré, a evidencia é muito forte, conforme Felipe Naveca. Mas ele conta que a Guillain-Barré é causada por outros tipos de infecções, o que se observou é que na Polinésia Francesa e em lugares com muitos casos de Zika houve aumento de casos da síndrome. Ainda não se sabe, mas aparentemente há associação com o Zika.

Oropouche: De acordo com Naveca, o Amazonas ainda não apresentou nenhum surto da febre Oropouche, mas em vários municípios do interior há casos registrados da doença. O vírus é transmitido por um inseto que mede menos de 3mm, descoberto por pesquisadores do Pará, região da Amazônia em que tem o maior número de casos.