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Ovário policístico: doença hormonal atinge uma em cada 15 mulheres causando problemas
Última atualização: 15 de Março de 2016 - 15:31

Uma em cada 15 mulheres tem Síndrome do Ovário Policístico (SOP), porém, poucas realmente sabem que a principal “solução” indicada por profissionais da Saúde está incorreta. Basta perguntar à amiga, prima ou irmã. A maioria responderá que toma anticoncepcionais para “tratar” o problema. Entretanto, segundo estudos das áreas de Endocrinologia e Metabologia, o medicamento apenas “mascara” os sinais.

De acordo com o médico Leandro Almeida, SOP é uma doença endocrinológica caracterizada pelo aumento da produção de hormônios masculinos e a paciente pode apresentar alguns sintomas combinados. São eles: aumento do volume ovariano, ausência ou irregularidade da menstruação, ausência de ovulação, aumento de peso, acne, crescimento de pelos no rosto, queda de cabelo, resistência insulínica (RI) e problemas com a fertilidade.

Em entrevista exclusiva ao VIDA & ESTILO, o também especialista em Endocrinologia Molecular, Fisiologia e Bioquímica revelou qual deve ser o tratamento e os riscos da utilização de métodos contraceptivos hormonais para a saúde feminina.

A maioria das mulheres com Síndrome do Ovário Policístico (SOP) recebe receitas de anticoncepcionais para lidar com o problema. Isso é uma forma de tratamento ou apenas alivia parte dos sintomas?

Leandro Almeida: Isso é apenas um tratamento paleativo, que mascara os sintomas da SOP, ‘normalizando’ o ciclo menstrual das portadoras dessa síndrome e nos impedindo de ver a evolução da doença em si. Na verdade, o uso do anticoncepcional — principalmente o combinado que tem na sua formulação o estradiol — é um problema muito sério e gera consequências graves a médio/longo prazo em suas usuárias, não só as que têm SOP. Não se trata com anticoncepcional. Isso apenas mascara os sintomas da resistência insulínica ovariana. Ao cessar o uso, volta à estaca zero, ou pior!

 

Quais são os riscos de se tomar anticoncepcionais para aliviar a SOP?

Leandro Almeida: Anticoncepcionais são um risco muito grande para todas as mulheres, não somente as que têm SOP, mas para todas, sem exceção. Estradiol em excesso, pode causar problemas de coagulação sanguínea, como trombose, que nada mais é que a formação de trombos (pedaços de sangue coagulado), que poderão afetar os membros inferiores, intestino, cérebro e coração. E são problemas que, se não descobertos a tempo, se tornam fatais. Nos membros inferiores, vocês conhecem como trombose venosa profunda [TVP], no cérebro, como acidente vascular cerebral [AVC], no intestino, como isquemia mesentérica e, no coração, como infarto do miocárdio. E não para por aí. O estradiol em níveis normais causa somente benefícios, mas quando é elevado devido ao uso do anticoncepcional, aumenta assustadoramente os riscos de câncer de mama e de colo de útero em mulheres de segunda e terceira idades. O grande problema das pílulas é o estradiol em excesso, que aumenta edema, adipogênese e risco de cânceres e doenças cardiovasculares.

 

Se esse não é o tratamento adequado, qual seria?

Leandro Almeida: O tratamento adequado e de primeira linha seria reeducação alimentar, com diminuição da ingestão de carboidratos, principalmente os de alta carga glicêmica; iniciar atividades físicas e/ou esportes; e diminuir a resistência insulínica com drogas para essa finalidade, como metformina [é um antidiabético oral], por exemplo. O grande problema hoje é o sedentarismo e o alto consumo de alimentos ricos em carboidratos de alto índice glicêmico, como pães, açúcar, doces, sobremesas, chocolates, leite, batata frita, biscoitos, bolachas, macarronadas, etc..

 

Então, qual é o seu conselho para mulheres que receberam indicação médica para usar anticoncepcionais?

Leandro Almeida: Optar por outros métodos contraceptivos (existem vários) que não tenham o estradiol como parte do tratamento. Como DIU de cobre, camisinha, entre outros.

 

O ginecologista “cuida” da saúde da mulher. Ele não seria o especialista mais indicado para lidar com casos de SOP?

Leandro Almeida: Se trata de um distúrbio hormonal/metabólico, e o endocrinologista é o profissional mais capacitado para tratar essa patologia. Tendo em vista que a endocrinologia é a especialidade dos hormônios e metabolismo. Mas claro que, se o ginecologista tem conhecimento suficiente para tratar a SOP, pode tranquilamente fazê-lo. Qualquer profissional que tenha estudado corretamente também poderá tratá-la, independentemente da especialidade. O problema é tratar errado. E isso é o que os ginecologistas mais estão fazendo por aí, com exceções, obviamente. Mas em resumo, o endocrinologista é o profissional de primeira escolha para o tratamento da SOP.

 

Quais os riscos de não tratar a SOP ou não fazê-lo corretamente?

Leandro Almeida: O diabetes do tipo 2 por exemplo, é uma doença que antigamente não existia, justamente porque as pessoas consumiam mais alimentos naturais e mais ricos em proteínas e gorduras e fibras, mas alguém que era diagnosticado com DM 2, era como uma sentença de morte, pois não havia tratamento no início do século 20 até os anos 50. Na SOP não tratada, a paciente tem grandes chances de evoluir para um diabetes tipo 2, principalmente, se for tratada com anticoncepcional.

 

Podemos dizer, então, que o vilão é o carboidrato? Qual é a sua recomendação às mulheres?

Leandro Almeida: Geralmente, a mulher com SOP tende a estar acima do peso, com grande apetite por carboidratos. Raramente veremos uma mulher praticante de atividade física com essa síndrome. Não é a gordura que engorda, aumenta o colesterol e o triglicerídeo; não é a gordura que fará você desenvolver síndrome metabólica, diabetes tipo 2 e talvez ter um infarto. O causador disso tudo é o consumo em excesso de carboidratos. Evitem óleos vegetais, como canola, soja, milho, girassol e troque-os por: óleo de coco, manteiga (de preferência GHEE) e banha de porco para cozinhar e preparar seus alimentos. E definitivamente, evitem comer tanto carboidrato.

 

DESTAQUE

Mulheres com Síndrome do Ovário Policístico (SOP) geralmente apresentam valores elevados de percentual de gordura, adiposidade central (barriga), testosterona, glicose pós-prandial, insulina basal e pós-prandial, triglicerídeos, colesterol total e LDL colesterol. Apresentam, ainda, fatores de risco cardiovasculares mais precocemente.

Apesar de ser comum, manifesta-se de diferentes formas e, por este motivo, o tratamento deve ser individualizado. De acordo com a Diretriz Brasileira sobre a SOP, dieta e exercícios físicos representam o tratamento de primeira linha, melhorando a resistência à insulina e retorno dos ciclos ovulatórios, mesmo na ausência de perda de peso.

BLOG Daniela Medeiros, 36, universitária

"Descobri que tinha SOP em 2008. Eu não menstruava há quatro meses e percebi que havia algo errado comigo. Além da falta da menstruação, eu me vi com pêlos em lugares que nunca havia tido, como no queixo, buço e entre os seios, além do aumento da oleosidade na pele e o aparecimento de muita acne. Também ganhei peso muito rápido. Procurei uma ginecologista e iniciei o tratamento com hormônios.  Mas eles não me ajudavam muito. Sentia-me inchada, e com a sensação de estar em uma TPM eterna. Abandonei o tratamento em 2011, mas os outros sintomas (pêlos, acne, oleosidade e aumento do abdômen) voltaram. Então, me indicaram a médica com quem faço acompanhamento até hoje. Mudamos do Diane para o Ferane, associado com a Metformina. Faço acompanhamento anual. Mas não consegui reduzir meu peso. Acredito que terei que conviver com a SOP."