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Nove décadas: mosquito Aedes aegypti evoluiu e passou a transmitir quatro doenças
Última atualização: 29 de Março de 2016 - 14:09

No início dos anos 1920, o sorrateiro e imperceptível Aedes aegypti era apenas um simples transmissor de uma única doença, a febre amarela. Depois de três décadas, o mosquito ressurge novamente, desta vez, com a transmissão de outra enfermidade - a Dengue. Hoje, o inseto invasor está mais “poderoso” e insolente. Transmite quatro tipos de Dengue, a febre Chikungunya e o vírus da Zika, que estabelecido com a microcefalia e a mielite aguda, esta última, ainda em estudo. 

No passado, apesar das críticas, as mobilizações surtiram efeito com as ações dos chamados guardas de endemias ou “mata mosquito”. Eles eram responsáveis por dedetizar as casas com o banido inseticida DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano), arma que, por agressões ao meio ambiente e a contaminação dos agentes, acabou  proibida.

Hoje, além dos  aspectos que culminam para a propagação do mosquito, as  ações de combate ao vetor, também são distintas as desenvolvidas no passado, quando o mosquito chegou a ser erradicado. 

Para o infectologista Bernardino Albuquerque, diretor-presidente da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM) – instituição vinculada à Secretaria Estadual de Saúde (Susam) –, as ações feitas nos primeiros 50 anos do século passado diferem completamente da atual. Um dos pontos cruciais que deu margem ao  ressurgimento do Aedes aegypti no País, segundo Bernardino, foi a urbanização das cidades.  

“Hoje, temos uma urbanização e população extremamente expressiva, três vezes maior a do passado. O saneamento, coleta de lixo e o abastecimento de água se apresentam como um estorvo em nossas vidas, mas de grande conveniência para o mosquito, uma vez que, a medida que oferecemos mais coleções de água para o Aedes aegypti  fazer o depósito de seus ovos, ele realmente vai ter uma capacidade de muito maior de reprodução, principalmente nos períodos de chuva”, explica.

Ações ‘policialescas’

O gestor da FVS-AM remonta que na década de 1950 havia áreas urbanas  bem menores e muito mais fácil de realizar uma cobertura próxima de 100% nas ações. “Naquela época, as ações eram “policialescas” e, hoje, para adentrar a um terreno abandonado, o agente tem que ir ao menos duas vezes ao ambiente, para poder entrar sem permissão no local”.

À época, o agente de endemias entrava por determinação da saúde publica. “Eles eliminavam os criadouros usando bolsas costais com inseticida (DDT), essas ações foram efetivas naquela época”, disse Bernardino Albuquerque.

O infectologista avalia que o mais preocupante no vírus da Zika é a questão da microcefalia. “Teremos uma geração de crianças nascendo e possivelmente, elas terão muitos problemas neurológicos e oftalmológicos, ou seja, isso é muito preocupante, uma futura geração nascendo com esse tipo de complicação”, completou.

Movimentos distintos

Quanto as ações feitas no passado, comparadas as realizadas hoje,  Bernardino Albuquerque relata que o grande problema é a sustentabilidade da mobilização. “Sabemos muito bem que o ciclo de reprodução do mosquito é em torno de sete a dez dias. Fazendo as ações numa determinada semana vamos diminuir os efeitos, mas se a próximas semana não tiver o mesmo aparato, estaremos dando margem para que o mosquito se reproduza”.

Bernardino destacou a importância da conscientização de combater o vetor das doenças. “O cidadão tem que ter a consciência que se ele não cooperar, dificilmente vamos conseguir erradicar o Aedes aegypti”.

Balanço aponta 69 positivos

No último balanço da FVS, de dezembro do ano passado a 15 de março deste ano, 558 exames foram realizados para o vírus da Zika. Desses, 205 para grávida, dos quais 69 deram positivo, sendo 11 indeterminado, 97 negativo e 28 exames de grávida em análise. Outros 335.