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Acompanhantes de pacientes com câncer falam sobre a rotina que enfrentam
Última atualização: 11 de Abril de 2017 - 16:37

Enfrentar um câncer não é fácil. A vida muda a partir do momento em que o diagnóstico é confirmado. E não apenas para os pacientes, mas para os amigos, parentes e todos aqueles que resolvem entrar na luta pela vida. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer, Inca, a estimativa é que sejam confirmados mais de 5 mil casos da doença, no Amazonas, entre os próximos meses.

Infelizmente, o esposo da dona de casa Joelma Pontes, 33, já faz parte dessa estatística. Em agosto do ano passado, Jhonny Rocha, 27, descobriu que tinha um linfoma no tórax. Desde então, a vida do casal mudou. Na época em que recebeu o diagnóstico, Jhonny, que antes trabalhava como ajudante de caminhão, estava desempregado, assim como Joelma. Ela começaria a procurar um emprego quando foi obrigada a mudar os planos para acompanhar o marido no tratamento contra o câncer.

"Tudo começou em abril de 2016, quando ele teve uma lesão na perna. Nós começamos a tratar a perna, mas nos meses de junho e julho ele começou a se queixar de dores nas costas e no peito. E em agosto descobrimos que ele tinha um câncer na parte torácica. Fizemos os exames e em janeiro começamos a quimioterapia. É um processo muito agressivo, a pessoa fica com a imunidade baixa, precisa de um cuidado redobrado", comentou Joelma, que antes da doença do marido trabalhava no distrito.

"Eu não pude mais trabalhar devido a isso. A gente que é acompanhante sabe como é a rotina, é uma vida complicada. Eu ainda não consegui um emprego, e não foi por falta de oportunidade, porque muitos já ligaram, mas eu não tenho como trabalhar agora porque nós temos uma vida muito complicada. Eu tenho que estar todo tempo com ele, ele não consegue levantar a perna e nem movimentar os braços direito", completou.

Joelma e Jhonny são casados há seis anos e têm um filho de cinco anos. Hoje, o casal tem uma rotina difícil e conta com o apoio da família. Toda semana, eles vão até a Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), na Zona Oeste de Manaus, onde Jhonny faz tratamento.

"Meus irmãos me ajudam muito. Minha irmã fica com meu filho e meu irmão vem comigo para o Fcecon em dias de quimioterapia. Nossa rotina é puxada e eu não posso largar ele (esposo), eu decidi enfrentar isso junto com ele, eu não sinto o que ele sente, mas eu vejo. A gente sofre junto", disse Joelma, que apesar de tudo não tira o sorriso do rosto e nem perde a esperança  por dias melhores.

"Depende de milagres, tem os familiares que ajudam e as pessoas da igreja, que ajudam com a alimentação também".

Melhor amiga

Há um ano, a vendedora de roupas, Franciane dos Santos Godinho, 39, acompanha a amiga Cleucione da Silva Lima , 30, que se recupera de um câncer de mama. As duas são de Parintins (a 325 quilômetros de Manaus) e se conhecem há bastante tempo, mas desde que Cleucione descobriu o tumor na mama direita, se aproximaram ainda mais.

"Como a família dela não mora aqui eu decidi acompanhá-la até o final do tratamento. Nós já éramos amigas, mas não éramos tão próximas. Quando ela descobriu a doença eu me aproximei mais porque percebi que ela precisava de uma pessoa para ajudá-la nesse momento difícil. Isso acabou fortalecendo a nossa amizade", disse a vendedora.

Casada e mãe de dois filhos, Franciane se divide entre as tarefas de casa e as idas à Fundação Cecon para acompanhar a amiga nas sessões de quimioterapia.

"Preciso adaptar a rotina da minha casa, como mãe de família, com o tratamento dela. Porque agora é toda semana, toda sexta-feira a gente está aqui e às vezes passamos o dia aqui. A gente acorda bem cedo, de madrugada ainda, por volta das 4h. Vamos de micro-ônibus até uma certa parte e depois pegamos outro ônibus. Chegamos aqui (Fcecon) por volta das 6h", comentou a vendedora, que também explicou o motivo que a levou a ajudar a amiga.   

"É uma questão de humanidade mesmo, e eu percebi que uma pessoa em um momento  desse sempre precisa de alguém mais próximo. A gente nunca pode esquecer do dia de amanhã. Hoje é ela, amanhã pode ser eu ou alguém da minha família", completou.

Lado social

A Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon) recebe pacientes de Manaus e do interior do Estado também. Segundo o diretor-presidente, Marco Antônio Ricci, é feito uma entrevista para saber quais pacientes precisam de apoio social.  

"Nós fazemos triagem e detectamos os pacientes que realmente estão necessitando de um apoio social. E através desse diagnóstico nós fornecemos, por meio da LACC (Liga Amazonense de Combate ao Câncer), cestas básicas, às vezes moradia, transporte e os laudos para o paciente adquirir o seu auxílio-doença. Após a entrevista social, a gente consegue dá total apoio ao paciente que se encontra tão fragilizado nesse momento difícil", comentou Ricci.