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Sarampo vira epidemia, se espalha e Arthur põe Manaus em emergência
Última atualização: 4 de Julho de 2018 - 10:01

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O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), decretou emergência na capital por 180 dias a partir desta terça, dia 3, diante do avanço da epidemia do sarampo na capital, com risco de se espalhar para outras cidades. De 1.841 casos notificados, 271 são confirmados desde o início de março. O aumento das ocorrências é na faixa dos 15 aos 29 anos.

A primeira medida tomada pela prefeitura será o reforço da vacinação de casa em casa e locais de concentração de pessoas, como escolas, shoppings, empresas, indústrias, comércios e outros.

Para isso, o número de agentes de vacinação vai mais que dobrar. O prefeito disse que já convocou mais 140 para se juntar aos atuais 120 vacinadores.

Arthur disse que quer o apoio do Governo do Estado e das Forças Armadas para combater o sarampo. “Já vencemos a chikungunya, zika vírus, uma crise econômica grave … não será o sarampo a deter os passos do povo de Manaus. Temos de agir com presteza para conter a doença em todos os limites de Manaus. Vamos enfrentar o sarampo pelo tempo necessário para fazer o adversário se render”.

Segundo ele, esse crescimento no número de casos suspeitos aumenta a possibilidade de disseminação da doença para outros estados.

Manaus não alcançou a cobertura de vacinação de 95% do público-alvo, apesar da intensificação da campanha para a população de 6 meses a 5 anos, iniciada em abril e ainda em curso.

A prioridade de vacinação contra a epidemia é para a faixa etária de 6 meses a 29 anos, mas essa atenção se estende às pessoas com até 49 anos.

Governo de Amazonino garante participação

O diretor-presidente da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, Bernardino Albuquerque, assegurou que o governo vai atuar com a prefeitura para controlar o avanço da doença na capital e interior do estado.

Bernardino alerta a população que a vacina está disponível em todas as unidades de saúde de Manaus e dos demais municípios.

Amazonas e Roraima, preocupação maior

Doenças já erradicadas no Brasil voltaram a ser motivo de preocupação entre autoridades sanitárias e profissionais de saúde. Baixas coberturas vacinais, de acordo com o próprio Ministério da Saúde, acendem “uma luz vermelha” no país.

No Amazonas e em Roraima, com a epidemia de sarampo, há cerca de 500 casos confirmados e mais de 1,5 mil em investigação. No outro extremo do país, o Rio Grande do Sul também confirmou seis casos da doença este ano.

Em 2016, o Brasil recebeu da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) o certificado de eliminação da circulação do vírus.

Em junho, países do Mercosul fizeram um acordo para evitar a reintrodução de doenças já eliminadas na região das américas, incluindo o sarampo, a poliomielite e a rubéola.

Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile se comprometeram a reforçar ações de saúde nas fronteiras e a fornecer assistência aos migrantes em tentativa de manter baixa a transmissão de casos.

Baixa cobertura vacinal na América do Sul

No último dia 8, a Opas enviou alerta aos países após a detecção de um caso da doença na Venezuela. Dados do governo federal mostram que 312 municípios brasileiros estão com cobertura vacinal contra pólio abaixo de 50%.

O grupo de doenças pode voltar a circular no Brasil caso a cobertura vacinal, sobretudo entre crianças, não aumente. O alerta é da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), que defende uma taxa de imunização de 95% do público-alvo.

Em entrevista à Agência Brasil, a presidente da entidade, Isabella Ballalai, explicou que uma série de fatores compromete o sucesso da imunização no país, incluindo a falta de conhecimento sobre doenças consideradas erradicadas, a divulgação de fake news via redes sociais e os horários limitados de funcionamento de postos de saúde.

Agência Brasil: Quais os desafios da vacinação no Brasil atualmente?

Isabella Ballalai: Estamos falando de doenças como sarampo, pólio, difteria e tétano. São vacinas básicas, mas que, muitas vezes, as pessoas acabam negligenciando. Não vacinam, atrasam, dizem “depois eu vou”. Juntamos isso com a não valorização dessas doenças, consideradas extintas e que, portanto, não se vê por aí. Juntamos também o dia a dia mesmo. Os postos de saúde no Brasil, em sua maioria, abrem de segunda a sexta e fecham para almoço. As famílias estão trabalhando. Isso tudo impacta na adesão.

Houve muita procura por vacina após os casos de febre amarela detectados no Brasil. Como isso se encaixa nesse contexto?

Com febre a amarela, a gente viveu uma situação diferente. Minas Gerais sempre foi área de vacinação rotineira – antes mesmo dessa epidemia. É preciso reforçar que não foi surto, foi uma epidemia. E, se as pessoas não se vacinarem, em dezembro agora, começa tudo de novo. Tínhamos baixa cobertura. As crianças até estavam vacinadas, mas os adultos não estavam. Aí, surge o desafio de fazer o adulto entender que ele também precisa tomar vacina. Por que não conseguimos vacinar todo mundo? Em época de epidemia, temos corre-corre, fila, discussão. De repente, com o fim dos casos, sumiu todo mundo. Sendo que pelo menos metade da população ficou sem se vacinar.

Como resumir os desafios da vacinação no Brasil?

A dificuldade de imunização no país é multifatorial – depende do tipo de vacina, da faixa etária em questão. Entre 20% a 30% dos adolescentes, por exemplo, se vacinaram contra a meningite. Só. As pessoas não imaginam a dificuldade que é levar um adolescente a uma sala de vacinação. No geral, o que a gente percebe é que, quando o povo tem medo da doença, procura a vacina. Brasileiro não tem medo da vacina, tem medo da doença. E só procura a vacina quando tem surto na televisão. Um exemplo foi a epidemia de gripe em 2016. Tínhamos filas de seis horas em clínicas privadas. A meta de vacinação ficou acima do necessário, passou de 100%. O que aconteceu com aquele mito de que as pessoas não se vacinam porque têm medo de pegar gripe? As pessoas tiveram medo da doença, viram a doença, acreditaram na doença.

Por que é tão difícil tratar da prevenção de doenças?

Já perdi as contas de quantas vezes vi pais de família que vacinam seus filhos e não se vacinam. Prevenção é uma coisa complicada. No tempo em que usar cinto de segurança não era obrigatório, a pessoa só usava quando perdia alguém em um acidente de trânsito. É mais ou menos isso que acontece com as vacinas. E olha que é prevista a obrigatoriedade da imunização no Estatuto da Criança e do Adolescente. É direito da criança e do adolescente a vacina. Os pais são provedores, não podem negar esse direito. Mas é complexo. Temos um cenário de grande evasão escolar no Brasil. A escola, por exemplo, não vai impedir uma criança de estudar porque não está com as vacinas em dia. Pode denunciar no conselho tutelar, mas impedir não vai. É um cenário bem diferente da realidade norte-americana. Os Estados Unidos não têm problema de evasão escolar e proíbem a criança de frequentar a escola se não estiver com as vacinas em dia.

Outros países também enfrentam dificuldades na imunização. Há similaridades com o cenário no Brasil?

Europa e América do Norte têm problemas graves de cobertura vacinal. São taxas que ficam em torno de 30% a 40% do público-alvo. Um problemão. Quando a gente fala de baixa cobertura vacinal no Brasil, é algo em torno de 70% a 80%. Parece bom quando comparado à realidade de outros países. Mas, para manter as doenças erradicadas, a gente precisa atingir nossas metas. E, especificamente entre menores de 1 ou 2 anos, a meta é 95% de cobertura vacinal. Funciona assim: tivemos, recentemente, casos de sarampo em Porto Alegre. Uma jovem não vacinada pegou a doença em Manaus. Se ela, mesmo não vacinada, tivesse ido a Manaus e encontrado crianças vacinadas, não teríamos o surto que tivemos no Sul. É o que chamamos de proteção coletiva. Cobertura vacinal é sinônimo de ação coletiva. E as pessoas estão cada vez mais individualizadas para se engajar numa ação coletiva.