O Amazonas apresenta aumento acelerado de casos e óbitos por Covid-19 inédito no país, desde o primeiro pico registrado entre março e abril de 2020. A velocidade de crescimento está evidenciada no Boletim Ampliado de Covid-19 e de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no Amazonas, edição nº 16, divulgado pela Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), nesta sexta-feira (29/01).

O diretor-presidente em exercício da FVS-AM, Cristiano Fernandes, aponta que a aceleração é observada a partir da segunda quinzena de dezembro, quando houve aumento no número de internações por Covid-19. “Esse crescimento nunca tinha sido visto e possivelmente está relacionado às condições biológicas e às variantes circulantes do vírus, bem como aspectos sociais como o descumprimento das medidas de prevenção contra a doença e à  realização de confraternizações de fim de ano e festas clandestinas no Amazonas”, salientou Cristiano.

Conforme o boletim ampliado, de 13 de março/2020 até 23 de janeiro/2021, foram registrados 19.784 hospitalizações de pacientes com Covid-19 no Estado do Amazonas. Esse aumento foi observado na ocupação de leitos clínicos e de UTI, tanto na rede pública quanto na rede privada, com aumento expressivo a partir de janeiro de 2021, resultando em acúmulo de pacientes à espera de leitos hospitalares.

O Estado apresenta a maior taxa de transmissão da Covid-19 do Brasil, estimado em 1,3 até 23 de janeiro. “Esse indicador representa quantas pessoas saudáveis podem ser infectadas a partir de uma que foi infectada com o novo coronavírus. Com a taxa atual, a cada 100 casos de Covid-19, em sete dias, vão surgir outros 130 casos em média”, alertou Cristiano.

Mortes por Covid-19- O boletim aponta que foram registrados 7.051 óbitos por Covid-19 no Amazonas de 24 março de 2020, data do primeiro óbito pela doença, até 23 de janeiro de 2021. Do total de óbitos, 67% (4.746/7.051) são de residentes da capital e 33% (2.305/7.051) do interior. Assim como nos casos registrados, o número de óbitos aumentou a partir da segunda metade de dezembro, principalmente em residentes de Manaus.

O estado apresenta a maior taxa de mortalidade de Covid-19 do país. Houve um aumento de 28,9% no número de óbitos por covid-19 na comparação entre maio de 2020 (1.630) e janeiro de 2021 - até 29/01 (2.102). A maioria dos óbitos foi registrada em Manaus. Foram 1.771 mortes, representando 84,3% (1.771/2.102) na capital e 331 óbitos no interior do Estado, 15,7% (331/2.102).

Em todo o Estado, no início de dezembro a média móvel de óbitos por dia era de 7,5 óbitos/dia e, em 23 de janeiro, aumentou para 100,1 óbitos/ dia. Em relação à taxa de mortalidade por Covid-19, a qual mede a ocorrência de óbitos na população, esta foi de 117 óbitos por 100 mil hab. no interior, 217 óbitos por 100 mil hab. na capital Manaus e de 170 óbitos por 100 mil hab. no Estado.

É importante observar que a letalidade apresentada nas semanas atuais, que é de 2,8%, superam a média nacional de 2,5%. “Isso significa que, a cada 100 pessoas infectadas, aproximadamente, três evoluem para óbito, sendo maior nos municípios de Manaus (4,5%), Itacoatiara (4,2%), Manacapuru (3,7%) e Tabatinga (3,5%)”, afirmou o diretor-presidente em exercício.

Faixas etárias – O boletim evidencia também que, a partir de janeiro de 2021, a incidência de Covid-19 nas pessoas com faixa etária entre 20 e 59 anos se iguala à encontrada em idosos. A taxa de incidência da doença em pessoas na faixa etária economicamente ativa, de 20 a 59 anos, aumentou em janeiro de 2021 (914,8) se comparado com os meses anteriores, quando foram identificadas incidências inferiores em 2020: dezembro (565,3), novembro (491,6), outubro (645,9), setembro (638,6) e agosto (627,5).

Em idosos, na faixa etária com mais de 60 anos, a taxa de incidência de casos de Covid-19 em janeiro é de 952,0. O dado também sofreu alterações nos últimos meses: dezembro (708,0), novembro (559,8), outubro (703,1), setembro (649,4) e agosto (752,6).

Já a mortalidade por Covid-19, com dados até 23 de janeiro, na faixa etária de maiores de 60 anos, permanece sendo a maior em janeiro, com aproximadamente 338 óbitos a cada 100 mil habitantes. As pessoas com mais de 60 anos continuam sendo as que apresentam maior risco de evoluírem para óbito por Covid-19.

As pessoas na faixa etária economicamente ativa (20 a 59 anos) apresentaram aumento na taxa de mortalidade relacionada à Covid-19, que foi de 29,1 em janeiro. Dado maior do que era apresentado por essa população nos meses anteriores: dezembro (5,1), novembro (3,7), outubro (5,1), setembro (3,6) e agosto (2,4).

O assessor da Sala de Situação do Amazonas, instalada na FVS-AM, Daniel Barros, destacou que houve um aumento de óbitos nas pessoas que não possuíam nenhum fator de risco para a doença. “É um cenário novo da doença já que os óbitos estavam ocorrendo principalmente em quem apresentava doenças preexistentes. No entanto, observa-se um aumento de 28,5% de óbitos para 48,7%, na comparação entre abril de 2020 e janeiro de 2021, em relação a quem não apresenta comorbidades”, detalhou Barros.

SRAG - O Boletim Ampliado também apresenta índices de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no Estado. Conforme o documento, em 2021 foram notificados 3.871 casos de SRAG, sendo 67% (2.587/3.871) casos confirmados de Covid-19, 0,1% (5/3.871) foram classificadas como SRAG por influenza e 26% (254/3.871) como outros vírus respiratórios.

A equipe técnica da FVS-AM também observou que em 2021 (até 23 de janeiro) a incidência de SRAG quadruplicou no comparativo com esse indicador de anos anteriores à pandemia de Covid-19 (2014-2019).

Referência – A FVS-AM é responsável pela Vigilância em Saúde do Amazonas, incluindo o monitoramento de indicadores de doenças, como a Covid-19, e está na linha de frente do enfrentamento da pandemia da doença no Estado. A instituição funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, na avenida Torquato Tapajós, 4.010, Colônia Santo Antônio, Manaus. Os números para contato são (92) 3182-8550 e 3182-8551.

Foto: Girlene Medeiros/FVS-AM